Este blogue existe há meses. Juro! Procurei o melhor serviço, li imenso acerca das vantagens e desvantagens de cada um, e criei-o, com um título inusitadamente longo e difícil. Cheio de boas intenções, rascunhei por aqui um artigo inicial, definidor q.b. daquilo que se pretendia escrever nestas páginas, e suficientemente grave para arcar com a responsabilidade de ser o primeiro. Mas nunca me pareceu que bastasse, e o artigo, ou antes, meio-artigo, continua por ali a marinar, na vinha d'alhos das palavras pendentes.
A revelação veio hoje: o blogue não estaria, porventura, fadado a uma inauguração solene, de tomada de posse oficial. Seria à minha medida, sem pretensões de me transcender, de ser maior que o seu autor. Seria, apenas, o seu autor, com a sua dimensão e as suas fraquezas, mas também com o melhor que tenho para oferecer. E ocorreu-me que não fui feito para cerimonial de estado, mas sim para grande amores e paixões. Grandes, para a escala de um mundo que, na minha imaginação, ainda é suficientemente grande e misterioso para me encantar todos os dias.
Estava, pois, na altura de proclamar bem alto o meu amor que, não sendo único, tem a vantagem de ser o mais recente, e prometer estender-se até que a morte nos separe. Que me perdoe a R. Eu sei que ela nem vai entender, quanto mais perdoar... Mas que me perdoe esta indiscrição melómana, que toma um bocadinho do coração que lhe pertence. Apaixonei-me por uma outra bela mulher, de faces coradas e um certo jeito de menina, mas uma menina ponderada, que sabe e gosta de exibir a sua meninice.
Como se não bastasse este calculismo cativante, a moça padece de múltipla personalidade. Tanto a encontro gingona e deliciosamente arrogante, como se entrelaça em torno do meu corpo numa súplica sofrida. E o seu nome percorre-me os lábios como se de uma canção se tratasse:
d-e-o-l-i-n-d-a.
Fica comigo, ao longo de todo o dia, retinindo nos meus pensamentos. Nunca esperei enamorar-me por uma Deolinda, confesso. Mas quantas mais vezes repito o seu nome, menos o estranho. Caramba, o nome é, por si só, uma declaração de admiração eterna! Faz-se amar, e desperta nos homens devoções.
Por mim, prometo continuar a amá-la em surdina, como se no meu peito houvesse espaço para um coração clandestino...
4 comentários:
... ínspirado... no mínimo.
Olá, Tiago. Mais do que inspirado, eu diria texto "respirado", o que implica, de alguma maneira, ir e vir, levar e trazer; pois só assim, expirando tu também, 'ela' te poderá sentir, como se a tua expiração lhe chegasse como um sussuro, um segredo, uma confissão, enfim, um cheiro, um sinal rasando-lhe o contorno... Gostei de te encontrar por aqui, desta forma, nessa indiscrição melómana das pessoas inflamadas que ousam enunciar - partilhando - ao mundo as suas devoções. Encontrei, pois um (pre) texto para te saudar. Abraço.
Fernando Lopes
LOOOL...também eu ando de paixoneta pela Deolinda...é uma heart breaker, essa mulher! :)
Muito obrigado a todos pelos comentários. Como podem perceber, sou um bloguista pouco menos que intermitente!
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